A origem das HQs — ou histórias em quadrinhos — vai muito além do que se aprende por aí. Aliás, você sabia que uma HQ brasileira foi publicada antes mesmo do famoso Yellow Kid? Pois é! Embora o personagem criado por Richard Felton Outcault em 1895 seja amplamente conhecido como o marco das tiras cômicas modernas, a história é mais antiga e cheia de nuances, inclusive com capítulos pouco conhecidos aqui no Brasil.
O que é uma HQ? Mais do que entretenimento, uma forma de arte
De acordo com Medauar e Kroll (meus professores do curso que fiz de Editor de Quadrinhos no LABPUB em 2024), uma HQ é “expressão artística que apresenta imagens pictóricas colocadas em ordem deliberada em um suporte material”. Em outras palavras, é uma forma de contar histórias através de imagens sequenciais, que combinam texto e ilustração para criar narrativas envolventes.

Atualmente, os quadrinhos são reconhecidos como a nona arte, o que reforça seu valor cultural e artístico. Além disso, os gêneros são os mais variados: aventura, drama, ficção científica, biografia, humor, entre muitos outros. Ou seja, o potencial criativo é praticamente ilimitado.
A origem dos quadrinhos: uma prática antiga com cara nova
Contar histórias com imagens é uma prática milenar. Desde as pinturas rupestres até os hieróglifos egípcios, o ser humano sempre buscou maneiras visuais de narrar eventos. Mesmo elementos típicos das HQs, como os balões de fala, têm raízes antigas. Um exemplo são os filactérios das pinturas medievais, usados para mostrar falas ou pensamentos dos personagens religiosos.
Contudo, o conceito de HQ moderna começou a se delinear apenas no século XIX. Alguns estudiosos apontam William Heath, em 1825, como um dos precursores, ao usar balões de fala em suas ilustrações satíricas no Reino Unido. Ainda assim, muitos consideram o suíço Rudolf Töpffer o verdadeiro pioneiro, com a publicação de Monsieur Jabot, em 1833. Suas obras combinavam texto e imagem de forma fluida, e influenciaram autores por toda a Europa.
Yellow Kid: o nascimento da tira cômica moderna
Nos Estados Unidos, Yellow Kid é geralmente reconhecido como o nascimento das HQs modernas. Criado por Richard Felton Outcault, o personagem estrelou a série The Hogan’s Alley, publicada a partir de 1895. O sucesso foi tão grande que gerou disputas entre jornais e consolidou o formato da tira cômica diária, além de introduzir o uso comercial das HQs.

Contudo, como veremos a seguir, o pioneirismo das histórias em quadrinhos não se limitou ao hemisfério norte.
HQs no Brasil: antes do Yellow Kid, já tínhamos quadrinhos por aqui
Surpreendentemente, o Brasil teve publicações no formato de HQ décadas antes da estreia de Yellow Kid. O nome mais lembrado é o de Angelo Agostini, considerado o “pai dos quadrinhos brasileiros”. Em 30 de janeiro de 1869, ele publicou As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte, na revista Vida Fluminense. O personagem, um caipira em viagem à cidade grande, foi um dos primeiros protagonistas cômicos da nossa imprensa.

No entanto, outro artista merece destaque: Sébastien Auguste Sisson, também conhecido como Sebastião Sisson. Esse litógrafo e caricaturista franco-brasileiro publicou, em 1855, O Namoro, quadros ao vivo, por S… o Cio, uma obra satírica sobre os costumes da época, no Rio de Janeiro. Esse trabalho, anterior em 40 anos ao Yellow Kid, possui elementos visuais sequenciais que o qualificam como uma das primeiras HQs publicadas no mundo — e a primeira do Brasil.

Conclusão: a HQ é mais nossa do que parece
Portanto, ao perguntar “Você conhece a origem das HQs?”, é essencial olhar além dos clássicos americanos. A história dos quadrinhos é diversa, rica e global — e o Brasil tem sim um papel de destaque nesse enredo. Mais do que uma forma de entretenimento, a HQ é uma poderosa ferramenta cultural e artística.
Se você curte HQs e quer se aprofundar nesse universo, vale a pena conhecer mais obras históricas, explorar livros teóricos sobre quadrinhos e, claro, investir em bons materiais de desenho. Afinal, quem sabe a próxima HQ que vai entrar pra história não é a sua?